sexta-feira, 23 de março de 2012

O TER e o SER

Se o famoso poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare vivesse nos dias de hoje, seu personagem Hamlet provavelmente teria dito essas palavras “Ter ou não ter, eis a questão”.
Em minha infância, lembro que meu pai costumava dizer: Filha, você pode ser o que quiser, a única coisa que te peço é que não pare de estudar. O conhecimento é o maior tesouro que uma pessoa pode ter e ninguém conseguirá roubá-lo de você.
Como essa frase mudou minha vida!
Depois disso passei boa parte da minha, ainda pouca, existência, buscando o máximo de conhecimento sobre tudo que me interessava, a vida se tornou uma aventura pra mim, e cada dia mais emocionante, tudo por conta dos livros que eu lia, filmes que assistia, das ótimas conversas que tinha com meus amigos.
Foram bons tempos, claro, cada geração tem sua própria cultura e isso me deixa um pouco triste. A geração de hoje é movida à base do Ter, eles não querem mais saber sobre nada, pra essa geração, que alguns dizem ser o “futuro do País” (estamos todos perdidos), o importante é consumir.
 Mundo? Use-o, sugue-o e descarte-o. Na era do passageiro, tudo se transforma rapidamente em coisa velha. Tudo pelo lucro, produtos acabam numa fração de segundo, como as imagens que são cuspidas em cima de nós pela televisão, assim como a moda “que te faz parecer ridículo para não sê-lo” e os “ídolos” que a publicidade lança no mercado.
O que foi lançado o ano passado, agora já é artigo de museu. Tudo pela sociedade que quer cada vez mais.
“Diz-me o quanto consomes e eu te direi o quanto vales”, é a frase que ecoa pelo mundo, as TVs, e os pregadores da modernização difundem essa máxima. A dor de já não ser, abre espaço para a vergonha de não ter.
A sociedade de consumo nos envolve numa dança que é proibida para mais de 80% dos mortais. Mas quem liga, o importante é comprar.  
Num mundo unido pelo dinheiro, a modernização expulsa muito mais pessoas do que acolhe e ninguém percebe.
A vontade de TER tomou o lugar do querer ser, o mundo moderno é uma máquina criadora de seres não pensantes, que consomem qualquer coisa, pelo único prazer de adquirir um bem.
Boa parte das pessoas não tem prazer em ler um livro, paciência para ver um bom filme, na verdade, em meio a tudo que elas compram, essas coisas se tornaram descartáveis, caíram no esquecimento.
Fazer o que? Esse é o mundo moderno. Pra quê SER, PENSAR quando você “pode ter tudo”.
Pra finalizar, não nos esqueçamos de uma coisa. O mesmo mundo que te oferece tudo (agora ao alcance de um clic), também cobra um preço caríssimo por isso. Ele vai te deixar com água na boca, pra depois te expulsar da mesa, ai não existirá remédio que faça adormecer essa fome e nem calmante capaz de apagar o tormento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Diz ai